O Convidado especial desta semana é o escritor Vinicius Lemarc que traz uma reflexão sobre a necessidade de amar e descobrir a felicidade nas pequenas coisas...
“Apologia do amor”
Os tempos mudaram. Hoje, a
moda é não ter qualquer compromisso; é se relacionar ocasionalmente. Ir pra
balada apenas pra azarar. O triunfo de uma noitada é ter batido o recorde de
beijos em caras e bocas diferentes. Formas e pegadas, cores e odores
multiplicados. Calientes, salientes, indecentes. Uma quantidade incontável;
rapidamente esquecível; que não deixa rastro da balada da sexta para o sábado.
Nesses tempos, não há muito
o que conversar. Quem se dedica a mesuras e agrados cavalheirescos está apenas
sendo chato, perdendo o foco. Moderno é conhecer o mínimo sobre o outro, para
manter a “impessoalidade da relação”.
Agora, o sexo é o estágio
seguinte, depois do beijo. O sexo, performático, socializado, politizado e
narcisista, onde um tem a total liberdade de ser escravo do outro, e dos
desejos mais impensados.
Nestes novos tempos, o sexo
precisa apenas de beleza. Mas não é qualquer beleza. Ele precisa de uma barriga
de tanquinho, de uma tatuagem pra fetiche, de um piercing nas áreas erotógenas.
Enfim, de um corpo modelado por um cirurgião, se possível; encaixado
perfeitamente no padrão de beleza que a mídia vende todo dia. Aquela história
de uma lingerie especial, de um ritual inicial, está cada dia mais careta. Pra
quê prestar tanta atenção num pedaço de pano, que vai esquecido a um canto, e
que nada faz, se há tantas peripécias a fazer? A dança da cachorra, tentar as
piores posições do Kama Sutra, ou, ainda, praticar várias formas de
sadomasoquismo. Uma opção moderna e de um romantismo tocante é assistir a um
filme deporno star, daqueles bem chulos, de sexo grupal, animal, com algum Kid
alguma coisa.
Nos enganaram. E nos enganam
a cada dia. Há uma espécie de força onipresente, mas que não é divina, agindo,
impelindo-nos a acreditar que amar é perda de tempo, que amar não vale a pena.
Que é preciso gozar. Gozar a vida. Num desespero de quem vê cada dia como o
último, e que precisa experimentar o máximo que o mundo oferece. O problema é
que, nesse afã de quantidade, perdemos qualidade, e a capacidade de distinguir
o que vale do que não vale a pena. Depois, com o passar da vida, é que
perceberemos o que de fato restou. E talvez mal restem lembranças de rostos que
poderiam ser o de um grande amor. É verdade que para se ter um grande amor é
preciso regar, oferecer luz, e sombra pra descansar, ajudar e acompanhar seu
crescimento, e crescer junto. É aí que está o ponto. É justamente quando
cuidamos, e crescemos juntos que abrimos espaço para o amor entrar, se
instalar. E assim podermos amar, de um amor sem medidas, mesmo que não seja
infinito, mas que valha a pena.
Precisamos reaprender a
passear de mãos dadas, tomar chuva juntos, cuidar das plantas, da casa, lembrar
as datas de aniversário e preparar aquela surpresa. Ir juntos, e ficar
juntinhos no cinema, assistindo a um filme inesquecível. Viajar, com ou sem rumo
certo, apenas para dividir momentos inesquecíveis com alguém especial. Escrever
aquela cartinha perfumada que está fora de moda, e enviar pelo serviço de
entregas, só para imaginar a expressão de alegria do outro ao receber, e
guardar com carinho, para um dia, talvez, queimar e se arrepender.
Precisamos aprender amar.
Saber que se é importante para alguém. Que, haja o que houver, a vida já valeu
a pena. Que soubemos sim o que é um grande amor. Que esta é uma das poucas
coisas que ninguém poderá nos tirar: a lembrança de momentos maravilhosos,
vividos intensamente, numa entrega de coração. Sem o hedonismo moderno, e onde
o sexo é a quase mágica tentativa de fusão de dois corpos que se atraem e se
completam, como que se o resto do mundo, naquele instante, não existisse.
Isso vale para homens e para
mulheres. É preciso fugir da massificação dos maus hábitos, e procurar novas
formas significativas de se relacionar com o outro. A mulher não pode aceitar a
sua desvalorização, em danças ridículas ou na exposição de sua intimidade nua;
e o homem precisa reciclar suas ideias sobre o amor, e sobre as mulheres.
Precisa deixar de consumir produtos, revistas e ideias meramente pornográficas,
e buscar encontrar-se com o amor. E vivê-lo, para sentir-se humano. Feliz. E fazer
feliz. E poder mostrar às gerações seguintes um caminho que vale seguir.
Ninguém pode sentir-se
inteiro se nunca sentiu aquele friozinho na barriga, ou viu o coração disparar
ao deparar-se com o ser amado.
E os ponteiros do relógio,
que parecem parados, e o dia se torna uma eternidade, na espera da hora do
encontro?
O celular encurtou o tempo,
a distância e controlou a ânsia. Deveria ser desterrado da relação. Nada como
apressar os passos para aplacar aquela deliciosa saudade.
Nada como brigar por alguma
bobagem e então descobrir a falta que o outro faz na vida. Nada como se
reconciliar. Quase perder pra se achar.
...
E ouvir música como se
estivesse na canção...
E escrever versos pra
confessar o seu amor...
E desinteressar-se da
conversa, pra divagar nesse mesmo amor...
E ficar sem graça ao
pegar-se falando demais no ser amado...
E cantar alto no banheiro...
na pia, no jardim...
E procurar insistentemente
aquele presente, aquela flor, pra agradar...
E levá-lo para conhecer a
família...
E para jantares
inesquecíveis...
E passar a noite, brincando,
como dois bobos apaixonados...
Ou horas confabulando sonhos
e planejando um futuro juntos...
E perder a hora...
E a noção do tempo.
E cheirar suas roupas,
quando estiver distante...
E ir buscá-lo na estação...
E contar as novidades...
E sentir o cheiro, e olhar
no olho, e se reapaixonar...
E se a união for duradoura,
dividir a emoção de ver o primeiro filho nascer, e cada um, e perceber neles a
divina consumação da fusão que buscaram. E vê-los crescer, e mostrar-lhes que o
amor é a essência e o tempero da vida.
E eles amarão. Como os pais
se amaram e lhes amaram.
E a vida fará algum sentido.
E o amor frutificará.
...
Tenha o que se tenha, passar
pela vida e não passar por isso é perder a maior parte da sua poesia.
Para amar, não há uma
receita. Cada um tem o seu jeito. Mas, hoje, essa é a nossa maior necessidade:
reaprender a amar.
E amar mais, e melhor!
Vinícius Lemarc
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Beijos,
Paty
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Beijos,
Paty
2 comentários:
gostei, belo poema, diz tudo, o que é verdadeiro, e realmente o que hoje em dia se tem perdido nos relacionamentos.
Ameio o seu artigo, parabéns.
http://www.danielvariedadesblog.co.cc
Minha amiga respondendo ao seu questionamento em final de postagem venho aqui lhe dizer que:
"Gostei sei, e por ter gostado digo que jamais deixaria de comentar quando o ato em de uma boa leira fazendo registro a impressão que tive sobre a sua Crônica de Vinicius L. que você editou para partilhar com a gente, valeu!
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